domingo, 5 de janeiro de 2014

"Tu és uma chata"

Foi a tua última frase para mim, a última vez que te vi, vivo e a brincar, apesar da febre alta. E ainda dói muito passar naquele corredor e saber que se entrar naquela porta verei um quarto vazio. Silencioso e frio.
A noticia da tua partida foi como um murro no estômago. Não te disse adeus nem o quanto gostava de ti. Não soubeste o quanto me irias fazer falta nem como eras parte de mim. 
Eu sei que não ouvias mas espero que mesmo assim guardes na memória as gargalhadas que davas e nos proporcionavas. Porque esta casa perdeu cor e alegria quando te perdeu. Porque esta família ficou mais negra, menos alegre e menos disposta à palhaçada. 
Porque vou ter saudades de ser a tua "daughtinha" ou "a minha menina" como sempre me chamavas, de ouvir os chinelos a arrastar, ou a maquina do oxigénio que parece que ainda oiço à noite. Vou ter saudades de quando enfiavas o braço no meu e dizias que nos íamos casar, ou de quando jogávamos dominó e conseguias sempre ganhar. 
Vou ter saudades tuas avô. 
E relembro-te hoje e sempre.

"O tempo não é sempre generoso e levou-te para aquele lugar onde te deixaste descansar. 
Sabes o que desejei, avô? Que aquele hospital não fosse a tua última casa, porque ainda tinha muito para aprender. Que abrisses os olhos e me visses assim, com tanto de ti."

1 comentário: