Aprendi que se torna mais fácil atravessa a meta quando se define onde acaba a corrida. Parece estupido de tão lógico que é, eu sei. Mas para mim fez toda a diferença aplicar isto no dia-a-dia! Deixar de pensar em "tenho de poupar dinheiro" e começar a pensar "tenho de poupar x dinheiro para aquilo" ajudou-me a perceber quanto preciso e dá um animo quando vamos fazer as contas e já só falta x.
Tenho tentado fazer um pouco isso. Amo o que faço, mas ultimamente percebi que deixei de gostar de viajar. Eu amava o friozinho na barriga, conhecer o lugar, ir sozinha e saber que era eu comigo e que me tinha de desenrascar. Já chorei muito de nervos, já ri às gargalhadas sozinha no carro alugado e já tenho histórias para contar. Os meus melhores anos profissionalmente foram sem dúvida essa parte. Não vou fingir que não sinto falta dos aviões, de escolher qual o hotel que prefiro e qual o carro que vou alugar. Sinto falta principalmente das nuvens. Do friozinho na barriga na subida e no meio da turbulência, no pensamento interno de "não sabes falar esta língua mas vais ter de te desenvencilhar". Cresci tanto quando fui para cima das nuvens, fiquei a admirar outras vistas e agora o meu estomago não aguenta a volta à rotina.
Foram 9 meses parada, nove meses longe das viagens, das correrias e das línguas do mundo. Nove meses em que tive o prazer de ter o meu puto comigo, 24/7. Damn, de cada vez que penso que ele vai voltar a trabalhar e deixar a casa vazia, o meu coração diminui um bocadinho. Foram N-O-V-E meses.
Em nove meses a criança (em sentido figurado) nasceu, mas depois a rotina voltou. A criança começou a dar insónias antes dos voos, começou a dar enjoos durante todo o período da viagem, começou a criar duvidas do seu amor pelo que faz, começou a considerar que não há dinheiro que pague isto - DEIXA-LOS, os que amo, perdidos em terra comigo a visitar diferentes ares.
Sempre fui muito caseira admito, sempre fui muito family-centered, mas nunca me fez confusão sair de casa uma semana em trabalho. Nem mesmo estar em casa apenas 1 ou 2 dias entre viagens, como já aconteceu. Mas agora considero impressionante como é que o meu corpo se deixa abalar fisicamente por esta distância que quase podemos dizer que é imposta por mim (visto ser eu a decidir ir). Quero acreditar que é isto do Covid que me está a dar incertezas e estes mal-estares mas como disse acima, criei metas. E há metas a serem cumpridas, independentemente de futuras decisões.
Wish me luck, porque nem este sol de São Vicente, comparado com o temporal de Portugal me está a fazer voltar atrás.
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