terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Há pessoas que nos vêm por dentro

Numa auditoria uma senhora contou-me que já passou por muito a nível de saúde. Com diversos problemas seguidos de operações e tratamentos que nem sempre deram resultados positivos (apenas efeitos colaterais).
A meio da auditoria, estava eu sossegada no meu canto, quando a senhora me diz
"Menina, não leve a mal o que vou dizer mas quem a vê diz que é uma pessoa feliz"
E eu disse que sim, porque no fim de contas, somando tudo o que tenho, posso concluir que o sou. Então ela continuou.
"Mas eu vejo que a menina tem uma dor muito grande dentro de si, aconteceu alguma coisa ou até muitas coisas em conjunto que a menina não soube como lidar e deixou-as de lado para poder continuar de certo modo a fazer-se feliz, mas tem momentos em que essas coisas voltam e perde o sorriso, mas não a força"
A verdade é que tenho momentos na minha vida que sou incapaz de esquecer porque marcaram quem eu era/sou para sempre. Momentos variados, momentos de luto, de tristeza profunda, de levantar a cabeça e enfrentar mais uma coisa má.
O fim de 2013 foi particularmente severo para mim, com duas perdas muito próximas que ainda hoje me causam o sentimento de culpa, inutilidade e desespero por ser um adeus definitivo. Nenhuma dor física (e acredirem que esta também esteve presente nesse periodo) consegue superar a dor psicológica e pressão que eu tinha nessa altura.
Eu não pude fazer o luto, ou talvez não quisesse. Preferi continuar a viver porque sabia que não existe nada que me possa apagar esta falta. Não me arrependo de o fazer. Há quem entre em depressão por motivos variados mas sempre associado a algum tipo de dor psicologica. Eu apenas não sou capaz de a viver, não consigo ficar fechada em casa e passar a vida a chorar e consequentemente perder os bons momentos por causa de episodios que foram dolorosos.
Faz mal, diz quem me conhece. Deves expor a situação, desabafar e libertar-te disso. Mas não consigo, não é por medo de recriminação, não é por medo de não me compreenderem. É apenas porque há coisas das quais nunca nos libertámos.

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